ENTREVISTA JORNALISTA CRISTINA ROCHADEL



(COTIDIANO LAGARTENSE) Cristina Rochadel, a imprensa em nosso país já teve uma importância fundamental, sendo inclusive apelidada de "quarto poder" justamente por levar à população a informação correta, direta e no momento do fato. Na opinião de V.Sa estariam os órgãos de imprensa e de comunicação de massa perdendo força junto a essa mesma população?

(CRISTINA ROCHADEL) Enquanto existirem profissionais de imprensa engajados, cuja a regra principal de atuação é não esquecer os princípios básicos como ouvir os dois lados, apurar os fatos, cruzar, checar e informar com responsabilidade, os órgãos de imprensa não perderão sua força e importância. A pandemia mostra o jornalismo como lugar de referência. O jornalista precisa saber identificar onde está a melhor informação e torná-la acessível para o maior número de expectadores possível. Estamos assistindo parte da imprensa preocupada com um jornalismo pautado na verdade. A população sabe diferenciar o joio do trigo, infelizmente, existentes em todas as profissões. Apesar dos desafios enfrentados diariamente, a imprensa é fundamental para uma democracia e continua sendo o “quarto poder”. Por isso incomoda tanto. É como diz o ditado popular: “não se jogam pedras em árvores que não dão frutos”.  Infelizmente existem os que se dizem “comunicadores”, e que de forma truculenta, sem ética e sem compromisso plantam informações falsas e apelativas, gerando pânico e insegurança na sociedade. Prefiro acreditar que esses são minoria, e que não representam a categoria. Em pesquisa recente o Datafolha revelou que os meios de comunicação que são majoritariamente desempenhados pela imprensa convencional inspiram maior confiança dos que os demais. E que os programas jornalísticos de TV são vistos como confiáveis por 61% da população, o que comprova sua força junto a população. 

(C.L.) Cristina Rochadel, está tramitando no Senado Federal projeto de autoria do Senador Alessandro Vieira buscando coibir o avanço das notícias falsas (normalmente veiculadas nas redes sociais) e punir os responsáveis, desde os provedores àqueles que a disseminam, qual a opinião de V. Sa. a respeito do projeto em questão?

(C. R.) Sou a favor de punição para qualquer pessoa que haja com má fé e que dissemine mentiras.  Se realmente for para “coibir notícias falsas”, tem meu total apoio. Será um grande começo para o fim dessa erva daninha. São esses irresponsáveis que com as tais e infelizes FAKES NEWS, cometem um atentado à democracia e à verdade, que maculam a imagem de setores e profissionais da comunicação que atuam com responsabilidade. Tudo que é falso tem sim que ser coibido. Sejam jornalistas ou os falsos jornalistas que “nasceram” com as redes sociais.

(C. L.) Sra Cristina Rochadel, trazendo especificamente para o município de Lagarto (onde figura como produtora de um programa jornalístico) somos sabedores que uma significativa parcela da população tem no rádio seu referencial de informação, contudo com o avanço das redes sociais e com elas uma farta variedade de notícias falsas, não estaria este veículo de comunicação perdendo espaço em nossa sociedade?

(C. R.) Vejo no rádio um dos maiores meios de comunicação. Acredito que a verdade prevalece sempre. Vejo no rádio o meio mais rápido e o que, apesar de toda a evolução tecnológica, não perdeu seu pódio. Aliás, muito me orgulha ver o programa que faço a produção, em Lagarto, ser um dos mais ouvidos da região. Temos alcançados números significativos. A equipe é de primeira e atua com muita responsabilidade. Busca a verdade dos fatos para informar nossos milhares de ouvintes de “O povo no rádio”, na FM Aparecida. Isso não é o segredo do sucesso, e sim a receita. A magia do rádio tem seu reinado garantido. Principalmente no interior, onde o hábito de ouvir o rádio, nas primeiras horas do dia é cultural. Acredito inclusive, que é no rádio que a população, diante do bombardeio de informações, vem tirando suas dúvidas. E viva o rádio que faz parte da vida de milhares de pessoas. O rádio é um instrumento, uma ferramenta mais segura de informação.

(C. L.) Cristina Rochadel, recentemente comemoramos o dia do Jornalista com a estatística vergonhosa de agressões (físicas, verbais e virtuais) contra os profissionais do meio; neste período de enfrentamento ao Corona vírus e com a democracia em nosso país sendo fragilizada com manifestos anti-republicanos V.Sa. acredita que a liberdade de imprensa continuará a ser respeitada?

(C. R.) Lamento e repudio qualquer tipo de agressão contra qualquer pessoa. Não acredito que o Brasil vá viver esse retrocesso absurdo. A Democracia vigente foi conquistada com muita luta. Muitas mortes marcaram o triste e o lamentável período de censura.
O papel da imprensa é informar os fatos de forma transparente. Presenciar setores e profissionais da imprensa tomarem partido e tornarem informações personificadas, me incomoda bastante. São por causa desses “profissionais” que surge a ideia de fragilidade. O respeito por nossos “colegas”, muitas vezes acaba quando seu interesse pessoal é maior do que propõem a profissão. Aliás, confesso que minha paixão pela comunicação, a faz uma das mais belas, quando exercida com responsabilidade e principalmente com imparcialidade. Outro agravante é ver nossa profissão ser usada como moeda de troca. Troca de favores e cargos. Talvez quando entenderem o propósito de ser um comunicador, seremos menos agredidos e desacreditados. Lamentável se viver uma pandemia e presenciar as informações sendo meios de disputa de poder.

(C. L.) Sra Cristina Rochadel, recentemente em nosso município pudemos ouvir de alguns locutores de várias emissoras, informações que vão de encontro ao amplamente divulgado pela imprensa profissional a respeito do avanço da COVID19, essas informações desencontradas (na sua maioria a opinião pessoal do  "profissional em epígrafe") de fato não estariam prestando um desserviço à população pondo em cheque o trabalho dos profissionais de imprensa vinculados aos maiores veículos de comunicação de nosso país?

(C. R.) Infelizmente, sim. Total desserviço. Na verdade, é necessário um fim para a libertinagem que rama feito erva daninha por falsos comunicadores. Como já citei em outros momentos dessa entrevista, inverdades devem ser banidas, afinal não passam de uma agressão à população. Um exemplo de informações desencontradas e suas terríveis consequências foi a de que as crianças não precisam ser vacinadas porque as vacinas disponibilizadas, nas redes pública ou particular, não imunizam. Grande engano e um triste resultado. Éramos um dos países onde o sarampo era considerado uma doença erradicada. Hoje o sarampo volta a matar no Brasil. Fruto de inverdades, que disseminadas, fizeram com que os pais não mais vacinassem seus filhos. Com esse exemplo, acredito não precisar dizer mais nada, só lamentar.   

 (C.L.) Com o advento da internet e o alavancamento das redes sociais surgiu um personagem que se propaga Brasil afora, os "influenciadores digitais"; diante da fragilidade dos conteúdos disseminados nessas redes V.Sa acredita que esses personagens tendem a substituir os profissionais de comunicação?

(C. R.) Nunca. Jamais. Eles não são jornalistas. Os profissionais da comunicação estudam para informar os fatos. Os “influenciadores digitais”, vendem produtos e fatos sem aprofundamento, muitas vezes, só republicam o que acham interessante. Nem sempre checam a veracidade da informação. Item essencial na carreira de um bom comunicador. Como o nome já diz influenciam. Sem desmerecê-los, cada papel com sua importância de atuação. Infelizmente, com o avanço das comunicações e a chegada das redes sociais, muitas pessoas se declaram “profissionais da comunicação”. Mas, não é bem assim. Nossos órgãos fiscalizadores precisam continuar atuando para evitar esse tipo de engano. Nossa profissão, como qualquer outra, merece respeito e deve ser exercida por profissionais de comunicação. É incrível a facilidade com que muitas pessoas interferem na atuação de comunicadores profissionais. Por algum, infeliz momento, alguns meios de comunicação, tentaram substituir os profissionais formados, por pessoas que se “diziam” ser comunicadores. Tiro o chapéu para os sindicatos que fiscalizam e não permitem essa substituição por uma mão de obra barata. 

(C. L.) Sra Cristina Rochadel, enquanto jornalista, qual a visão de V.Sa. sobre o futuro da imprensa em nosso país e especificamente em nosso Estado?

(C. R.) Apesar dos desafios enfrentadas, sobreviveremos. Nosso futuro é continuar mostrando os fatos doa a quem doer. Desde que pautados na verdade. Em outras situações já houve quem articulasse o fim da imprensa, o fim do diploma, e mesmo assim, cá estamos nós, falando de comunicação, de imprensa e de pessoas diplomadas. E assim será, continuaremos mostrando nossa força. Quanto ao respeito, cai bem sempre. Críticas, agressões e ofensas partem dos que temem o nosso poder. Saibam eles, que não nos enfraquecem com esses atos medíocres. Saibam eles, que quem transgredi e ofende a liberdade de imprensa, não está a ofender só nós, e sim a Constituição Brasileira, a democracia e a cidadania. O verdadeiro jornalista, faz correr nas veias o sangue da investigação para informar a verdade.  Não somos super-heróis, mas com certeza possuímos uma “capa” que nos faz seguir, e honrar nosso juramento: “...assumir meu compromisso com a verdade e com a informação. Juro, no exercício de meu dever profissional, não omitir, não mentir e não distorcer informações, não manipular dados e, acima de tudo, não subordinar em favor de interesses pessoais o direito do cidadão a informação”.
São a ética e o compromisso com a informação de qualidade que garantirão nossa existência por muitas décadas. Profissionais qualificados, em Sergipe, graças a Deus, temos muitos.

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